Com o intuito de inspecionar, informalmente, a situação de destruição vivenciada no patrimônio arquitetônico de Feira de Santana, a Comissão de Educação e Cultura da Câmara Municipal fez uma visita a ruas, localidades e imóveis do centro da cidade nesta segunda-feira (8). O grupo, formado pelo presidente do colegiado, Jhonatas Monteiro (PSOL), pelo integrate Professor Ivamberg (PT) e a arquiteta e urbanista da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Bernadete Cássia Santiago Lima Almeida, iniciou as observações a partir da Praça da Matriz de Senhora Santana, onde há um coreto tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac). Seguindo pela rua Conselheiro Franco, eles verificaram os imóveis na medida que passavam em frente às edificações, alvo da inspeção, alguns dos quais transformados em pontos comerciais.
Avistaram uma casa antiga (talvez, a única de uso residencial ainda no Município); o Centro Empresarial Mandacaru (antigo prédio comercial, que pode ser considerado como o primeiro shopping de Feira); o prédio da Seresta da Vitória (estado de conservação razoável, em virtude de permanecer em uso); São Monte Pio dos Artistas Feirenses (imóvel preserva as grades originais, apesar de já ter passado por intervenções) e a Sociedade Filarmônica 25 de Março (fundada em 1868, que encontra-se deteriorado, inclusive com tubulação exposta). “A questão toda é que a cultura de Feira se resume ao comércio. E acabou. Casarões, a exemplo do Hotel Solar Senador, demoliram da noite para o dia”, destacou Bernadete.
Para a especialista, se for feito um comparativo das intervenções que ocorrem atualmente na capital do Estado da Bahia (Salvador), relativas à demolição de construções antigas para uso comercial, ao contrário de preservá-las, “será constatado que está acontecendo o mesmo processo em Feira”. Ao concordar com este pensamento, o presidente da Comissão de Cultura, criticou a especulação imobiliária pela não preservação do patrimônio arquitetônico, muitas vezes contando com o aval da Prefeitura Municipal. Ele cita a residência de poetas, escritores e políticos do Município, como a da família de Chico Pinto [advogado feirense, ex-deputado federal e ex-prefeito, cassado pelo golpe de 1964], cujo imóvel situado na avenida Senhor dos Passos, acabou sendo demolido para virar estacionamento ou supermercado.
Feira tem um patrimônio significativo e de grande potencial turístico, em sua área central. Mas isto está sendo jogado fora, ao invés de se criar um circuito de feiras, por exemplo, como o que existe em outras cidades brasileiras” diz Jhonatas. A Princesa do Sertão, segundo ele, possui uma quantidade extensa do que pode ser considerado patrimônio arquitetônico, além da visão tradicional de se considerar só os grandes casarões. O parlamentar frisou que algumas casas populares das localidades Marajó e Nagé se encaixam nesta perspectiva.
Também precisam de uma maior atenção prédios de arquitetura modernista observados pela comitiva no cruzamento da avenida Getúlio Vargas, a exemplo do que sedia a Sociedade Filarmônica Euterpe Feirense (fundada em 1921), outro situado no local onde funcionou a antiga Le Biscuit nas proximidades da Igreja dos Remédios, a Escola Maria Quitéria (deteriorada e cheia de lixo) e Praça Agostinho Fróes da Mota, esta em melhor estado de preservação. “Ás vezes, estas edificações não são vistas sob a ótica de patrimônio arquitetônico e passam despercebidas, apesar da importância histórica”.
COMISSÃO VAI PROMOVER REUNIÃO AMPLIADA SOBRE PATRIMÔNIO FEIRENSE
Por ser uma problemática que interessa e incomoda toda a sociedade feirense, informou o presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara, o órgão legislativo decidiu promover, muito em breve, um debate aberto ao público, sobre a influência do caráter comercial de Feira na dinâmica da destruição do patrimônio arquitetônico do Município. “Se o Poder Executivo não está fazendo, vamos pelo menos levantar esta discussão no âmbito do Poder Legislativo”, declarou. A iniciativa, com data a ser divulgada, será uma Reunião Ampliada, com presença de profissionais de arquitetura, urbanismo e das áreas de história e sociologia. “Nossa pretensão é ver se conseguimos fazer o que a Prefeitura não tem feito, que é elaborar uma proposta para lidar com esta situação”, disse Professor Ivamberg, membro da comissão. “Porque, apesar de ter uma destruição muito intensa e muita gente se sensibilizar em relação a isso, acaba sendo uma coisa que vai passando como se fosse algo natural e aceitável”, observou ele.
Este website utiliza cookies próprios e de terceiros a fim de personalizar o conteúdo, melhorar a experiência do usuário, fornecer funções de mídias sociais e analisar o tráfego. Para continuar navegando você deve concordar com nossa Política de Cookies e Política de Privacidade e Proteção de Dados.