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Líder comunitária é reverenciada no Dia da Beleza Negra: destaque na luta pelo povo preto
23 de setembro de 2022

Negro é lindo! A expressão (Black is beautiful) denomina um movimento iniciado nos Estados Unidos em 1960, surgido da necessidade de discutir não apenas a estética, mas também a identidade, eliminando a ideia de que a cor da pele, os traços faciais e o cabelo são características feias, alimentada historicamente pela supremacia branca. Mais de seis décadas depois, na noite desta quinta-feira (22), o tema foi debatido em sessão solene da Câmara Municipal, em comemoração ao Dia da Beleza Negra. 
 
Foi um momento histórico, com palestras, depoimentos emocionados e homenagens a pessoas que mantêm vivas as raízes da cultura negra em Feira de Santana. Uma delas, a líder comunitária Maria São Pedro Souza Estrela, conhecida como Dona Bia, mulher preta que construiu a própria história participando da trajetória de vida das pessoas. Foram 93 anos de práticas socioeducacionais em favor da comunidade onde vivia, o bairro Campo Limpo. Ela faleceu em maio deste ano. 
 
 “Mesmo quando a palavra empoderamento nem sequer existia, ela não só se apossou do termo, com atitudes e ações, como ensinou aos filhos, e a todos que dela se aproximassem, a não abrir mão de entrarem qualquer lugar pela porta da frente. Sempre. E a nunca se calar”, disse a jornalista e professora de Literatura Maria Madalena de Jesus, palestrante do evento. Segundo ela, Dona Bia acreditava que nasceu para brilhar e conseguiu. “Do seu jeito, sem estardalhaço, mas com resiliência e empatia”. 
 
Uma lutadora em tempo integral, liderou a construção de escola e unidade de saúde, pavimentação de ruas, campanhas solidárias e promoção de eventos culturais, sempre cercada por moradores do bairro, “o povo de Dona Bia”, a maioria mulheres. A sua filosofia nesse trabalho era simples: Se não puder ajudar, não atrapalhe. A palestrante falou também sobre a importância da escola na difusão da cultura e resistência do povo negro, citou o caso recente da estudante universitária expulsa por postagens racistas em rede social e lembrou afirmação da também jornalista Dandara Barreto: “Racismo não é opinião; é crime”.  
 
O assunto foi comentado também por Raimundo Borges da Mota Júnior, Mestre em Estudos Literários, que apresentou um vídeo sobre Belezas Ecológicas em Feira de Santana e os frutos das relações étnico-raciais. Ele destacou o empenho de Lourdes Santana, produtora cultural e presidente do Núcleo Cultural, Educacional e Social Quilombola – Odungê, para realização da sessão para celebrar a beleza negra. Filha de Dona Bia, Lourdes é uma militante ativa do Movimento Negro no município. 
 
“Feira de Santana é uma cidade acolhedora, mas que ainda precisa avançar muito nas questões étnico-raciais”, disse Raimundo Júnior, ressaltando que a beleza está nas atitudes e fisionomias de pessoas que lutam contra a ordem vigente. “São os Zumbis e Dandaras de nossa cidade”, afirmou o palestrante, acrescentando que discursos racistas são perversos e visam tão somente minar uma luta histórica. Citando o músico Gilsan, também filho da homenageada da noite, ele falou ainda sobre representatividade, diversidade e expressão. 
 
“Uma noite especial e que fortalece as organizações no enfrentamento ao racismo, bem como a todas as desigualdades raciais”, definiu Jairo Carneiro Filho, seguido pelo vereador Jhonatas Monteiro (PSOL), que defendeu o ativismo como “algo que deve ser protagonizado pelo povo preto”. Segundo ele, “o racismo não dá trégua, está nos campos de futebol, no comércio, nas escolas e até nos espaços de decisão política.” Também se pronunciaram sobre a temática o vereador Silvio Dias (PT) e o advogado Albertone Oliveira Amorim. 
 
Para o vereador Professor Ivamberg (PT), que presidiu a sessão, “a postura identitária da beleza estética é deturpada pelo ‘guarda chuva’ da democracia racial“. Ele compôs a mesa ao lado de Jhonatas Monteiro (PSOL), o cantor Gilsan, Jairo Carneiro Filho, secretário Municipal de Cultura, representando o prefeito Colbert Martins, e os palestrantes Maria Madalena de Jesus e Raimundo Júnior Borges. No final, houve apresentação de música e dança, com a participação de Gilsan e Lourdes Santana. A realização da solenidade foi proposta pela vereadora Lu de Ronny (MDB). 

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