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Feira 190 anos: A história da cidade contada por meio da biografia de sua gente
18 de setembro de 2023

O seu sonho era, um dia, ser lembrada como alguém que imortalizou pessoas. Foi com essa ideia  que a professora de Inglês Lélia Vitor Fernandes de Oliveira começou a biografar personalidades das mais diversas áreas e de perfis variados. Histórias de médicos, odontólogos, professoras e figuras populares anônimas das ruas de Feira de Santana povoam seus 34 livros publicados. Assim, ela acaba contando a história da cidade. 

Aos 77 anos de idade, Lélia mantém a simplicidade da menina que virou poetisa (é assim que ela gosta de ser chamada) e contadora de histórias. Como as que estão publicadas em “Cidadãos do Mundo”, livro de 2001, que reúne os perfis de 120 personagens folclóricos que, embora anônimos, são conhecidos da população feirense e circularam pela cidade desde 1950. Quem não lembra de “Noratinho da Pamonha”, o simpático vendedor de pamonha que cantava a receita da iguaria? 

“Eu cheguei a entrevistá-lo”, conta professora Lélia, com um entusiasmo contido, antes de citar outras pessoas populares biografadas: Helena do Bode, que praticava o curandeirismo e mantinha em casa um bode preto; Conterrâneo, um engraxate e sapateiro que ganhou na loteria e correu o mundo; Maria Oreinha, que perdeu uma orelha em briga com uma desafeta e ia à loucura quando era chamada pelo apelido; e Caculé, um comerciante de bugigangas que idolatrava Roberto Carlos e falava sem parar. 

Com prefácio do poeta cordelista Franklin Maxado e capa do artista plástico Herivelton Figueiredo, o livro “Cidadãos do Mundo” deu a Lélia um prêmio do Consulado do Japão na Bahia. A ex-secretária de Educação de Santa Bárbara – onde nasceu – e de Feira de Santana, pesquisadora e memorialista, ela vibra com o resultado de seus projetos. Um dos mais gratificantes, confessa, foi “Mestras do Bem”, que conta a história de professoras que ajudaram a construir a Educação feirense, com dedicação e comprometimento.

“Anjos de Cabeceira” e “Promotores do Sorriso” apresentam dados biográficos dos médicos e odontólogos com atuação em Feira de Santana, bem como “Mulheres que deixaram marcas”, que cita da primeira gari contratada pela Prefeitura Municipal, Maria Cerqueira da Costa, à primeira juíza da comarca, Dra. Ruth Pondé Luz. Não somente os prefeitos ganharam destaque na obra de Lélia Fernandes, como também as primeiras damas, que compõem o acervo pessoal da escritora, hoje com mais de 2 mil títulos, sendo 560 de autores feirenses.   

“E não sei viver sem livros”, resume a escritora, que também já resgatou a história do Museu de Arte Contemporânea (MAC) e criou o Memorial Maria Quitéria no Casarão Olhos D’Água (foto em destaque),  hoje Casa da Cultura. Ela fez ainda uma coletânea de mais de três mil frases de caminhões (“Sabedoria na Estrada”), epitáfios em lápides e nomes exóticos. Este último trabalho a levou a fazer pesquisas também no Estado de Pernambuco. Agora, Lélia está às voltas com a publicação do terceiro volume de “Inquilinos da Cidadania”, em que biografa os vereadores desde a primeira formação da Câmara Municipal. 

Das mais de 30 obras publicadas, apenas três não são focadas em Feira de Santana; contemplam as cidades de Santa Bárbara, Santanópolis e Caldas do Jorro. Em “Feira de Santana, minha vida”, a feirense fala um pouco de tudo da cidade, dos pontos de vista histórico e geográfico, juntamente com José Raimundo Azevêdo e Aurélio Shomer. “Nossa história tem muitas contradições”, diz a pesquisadora, que prefere a versão original. E ela, que passou tantos anos de sua vida na sala de aula, certamente será imortalizada pela história de Feira. 

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