A exemplo do que ocorre na região do Quilombo Pitanga dos Palmares, onde foi assassinada recentemente a ativista Maria Bernadete Pacífico, comunidades quilombolas de Feira de Santana também empreendem uma luta pela demarcação territorial e regularização fundiária. O assunto foi debatido na Câmara Municipal durante a sessão desta terça-feira (29), quando participantes e representantes de movimentos vinculados ao tema ocuparam a galeria da Casa da Cidadania e alguns dos seus representantes discursaram em Tribuna Livre. Segundo o coordenador do Movimento Negro Unificado, Dilson Cerqueira, essas reivindicações das comunidades quilombolas estão na pauta do Movimento Negro Unificado (MNU), do qual faz parte.
Ele diz que, apesar de contar com o apoio de organizações sociais e entidades que a legitimam, esta batalha se encontra ainda distante dos resultados almejados. O conflito por terra, acredita, teria sido a motivação para o assassinato da Mãe Bernadete, dia 17 deste mês, crime que está alcançando repercussão nacional e mundial. A morte dela, em sua opinião, reacende a “necessidade de garantir o reconhecimento da propriedade dos territórios e proteger as comunidades negras quilombolas”.
Isabel dos Santos diz que, somente em Feira de Santana, a população quilombola é de cerca de 12 mil pessoas, enquanto em toda a Bahia, quase 400 mil. Apesar destes números, a representante do Movimento Quilombola neste Município destaca que faltam políticas públicas e ações para garantir os direitos dessas comunidades: “Nossos territórios estão fatiados, as matas virgens foram desmatadas para fazer loteamentos e precisamos de atenção do Poder Público para cuidar da nossa saúde e educação”.
O assassinato da Mãe Bernadete também pode ter conotação religiosa, aponta o presidente do Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento das Comunidades Negras e Indígenas de Feira de Santana, Arestides Maltez Júnior. Sacerdote e ativista social, ele destaca que a líder quilombola também era ialorixá em religião de matriz africana e “fazia parte de uma religiosidade que se perpetua entre as comunidades negras quilombolas”.
Ivanide Santa Bárbara, conceituada liderança quilombola em Feira, considera o crime reflexo do racismo estrutural na sociedade. Por isso, ela conclama as pessoas negras a se manifestarem contra qualquer tentativa de subjugamento: “Erga o peito e diga: tire o seu racismo do caminho que eu quero passar com a minha cor”. Para o vereador Jhonatas Monteiro (PSOL), o assassinato da Mãe Bernadete dá visibilidade ao que acontece diariamente nas comunidades rurais e quilombolas, às voltas com as consequências do “racismo perverso, que continua fechando os olhos para todo tipo de ataque”.
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