O jovem Matheus de Araújo Moreira Silva, 25 anos, estudante da rede pública residente no bairro Viveiros em Feira de Santana, que sonha formar-se em Medicina e obteve quase 980 pontos na prova de Redação do ENEM 2021, pretende montar um projeto para atender a jovens – não apenas negros, faz questão de enfatizar – residentes na periferia da cidade. O objetivo é ajudar alunos que necessitem melhorar a sua performance na importante disciplina. O compromisso foi feito por ele nesta quarta (14), em pronunciamento na Tribuna Livre da Câmara Municipal, onde compareceu atendendo a convite dos vereadores Pedro Cícero (Cidadania) e Petrônio Lima (Republicanos). “Espero ser símbolo de resistência destes jovens, para que lutem por vitórias”, diz ele, que é natural de Antônio Cardoso, filho do pedreiro Antônio e da doméstica Raimunda, o mais velho de uma família dos seis irmãos.
Preocupado com os danos que a pandemia de coronavírus está causando à educação, com muitos colegas deixando de estudar, pediu à Câmara a criação de “políticas firmes” pela reintegração desses jovens á escola. Também apelou aos vereadores gestões para que a Biblioteca Arnold Silva, da Prefeitura, que ele chama de sua “segunda casa”, seja reformada. “Já fizemos (ele e outros frequentadores) muitos requerimentos, e nada. Acho absurdo Feira ter apenas uma biblioteca municipal, mesmo assim sucateada”, diz ele.
Com o fechamento deste espaço público, ele tentou utilizar as instalações da Associação de Moradores do Viveiros, mas o barulho o impedia de concentrar-se, como também ocorria na residência dos pais – um dos irmãos, inclusive, é portador de deficiências. Conseguiu então, por empréstimo, a casa de uma amiga, que passou a ser o seu local de estudo para o ENEM. Não havia energia elétrica, mas ele utilizava a lanterna do celular, quando a noite chegava. Estudava seis horas por dia e dava reforço escolar para outros alunos, para conseguir dinheiro de algumas despesas. “O que entrava era pouco”, recorda-se.
INGRESSAR NO CURSO DE MEDICINA É INCERTO
Matheus ingressou na UEFS para cursar Enfermagem em 2015, após se preparar desde 2013 para o vestibular e ser bem sucedido, passando em 7º lugar. Para alcançar este objetivo, trabalhava pela manhã, fazia cursinho pela tarde e estudava na Biblioteca Municipal à noite. Lembra-se que no último dia do exame não tinha dinheiro para alimentação. “Fiz a prova em jejum, só água”. Após dois anos, desistiu do curso. “Vi que não era o que eu queria”. Então, não retornou em 2018. Ele diz ter consciência de que o ingresso na faculdade de Medicina, sonho cada vez mais alimentado sempre que olha para o irmão “especial”, é algo incerto, mesmo tendo obtido uma nota destacada. “Já cheguei ao meu ápice, fruto de quase oito anos de estudos e sacrifícios. Se não conseguir desta vez, não sei se vou continuar”, confessa. Neste momento, não consegue conter as lágrimas e é aplaudido por todos os vereadores.
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