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Feira 190 anos: uma história recontada todos os dias
18 de setembro de 2023

A história de Feira de Santana é contada e recontada há quase duas décadas, sem grandes alterações no formato, na identificação dos personagens ou dos episódios que marcaram a trajetória dos feirenses, de nascimento ou não. Mas que tal promover algumas mudanças no ritmo dos acontecimentos, considerando novos tempos e espaços, sem, contudo, perder a essência? Não exatamente uma nova história – até porque isso seria impossível – mas outros olhares.

“Eu começaria a história de Feira pela rua Sales Barbosa (foto em destaque: Memorial da Feira) e avenida Getúlio Vargas, porque elas captam a alma da cidade, com o cruzamento de tempos e espaços do comércio, formal e informal”, sugere Alana Freitas El Fahl, professora de Literatura e cronista atenta às peculiaridades do lugar onde nasceu e tem o “umbigo enterrado”, como costuma dizer. Atraída pela diversidade do centro, ela cita “A alma encantadora das ruas”, do também cronista João do Rio. E nesse sentido, ela faz uma analogia bem singular: “São Paulo é uma Feira de Santana ampliada”.

De acordo com a professora, as ruas de Feira têm alma e o comércio se divide em nichos que contemplam todos os ramos de negócios, de frutas e verduras, a confecções, comida e até o tradicional “ferro velho” da antiga rua de Aurora. Essa propensão ao comércio de rua é tão forte, conforme observa, que tão logo foi retirada a feira principal da cidade, brotaram novas feiras em todos os cantos. “Com a pandemia, surgiram as feiras virtuais, que se proliferam por meio de grupos, inclusive dentro de condomínios”.

Dentro da perspectiva de que tem coisas que só acontecem em Feira, Alana conta que só viaja com passagem de volta comprada e revela um dado curioso: dificilmente um imigrante que chega a Feira de Santana vai embora, atraído por essa mistura de metrópole que sedia grandes empreendimentos e província, onde muitas pessoas ainda carregam os nomes de pais e mães como referência. Exemplos: os cantores feirenses Tonho Dionorina, Jorge de Angélica… “Há também uma rede e conhecimento, com perguntas do tipo “você estudou onde”?

E contar a história da cidade lá de trás, por meio de seus escritores e poetas, seria possível? “No final do século XIX houve uma produção cultural fantástica e o Jornal Folha do Norte tem esses registros”, cita Alana Freitas, destacando Honorato Bonfim, Cristóvão Barreto e seus epigramas de humor e o próprio Sales Barbosa. Já no século XX vale lembrar Eurico Alves Boaventura e Godofredo Filho. Este último, conforme conta, enviou um poema sobre Feira para Manoel Bandeira.

Na vasta relação de grandes nomes não poderiam faltar Georgina Erisman, musicista e poeta, autora do hino da cidade; Antônio Lopes, conhecido como o príncipe dos poetas, Aloísio Resende, estudioso da cultura afro; e Olney São Paulo, que em um de seus contos reporta o caso de um grupo de jovens que profanaram túmulos do Cemitério Piedade e beberam vinho em crânios dos mortos. Uma citação especial vai para o grupo Hera, que reuniu jovens poetas à época, dentre eles Roberval e Rubens Pereira e Antônio Brasileiro, dentre outros.

Como não poderia deixar de ser, os professores são igualmente produtores de histórias, independentemente da área de atuação, na avaliação de Alana. Mesmo correndo o risco de deixar nomes importantes de fora, ela arrisca uma lista breve, sem seguir ordem cronológica: Luiz Alberto (Literatura), José Bento (Química), Noé (Física), Marialvo Barreto (Geografia), Ana Rita Neves (Português), Elza Santos Silva (Redação), Marieta Peixinho (Português)Marcos Moraes (Artes), Nilza Ribeiro (Geografia), Paulo Gracindo (Biologia), Antônio (Tibiriça) Pereira e Cesar Ribeiro. Figuram na relação professoras empreendedoras na Educação, como Nena (Ruy Barbosa), Celita (Recanto Infantil), Bibi (Castro Alves), Enedite (João Paulo) e Aurora (Pequeno Príncipe).

Graduada em Letras Vernáculas pela Universidade Estadual de Feira de Santana,  onde é professora de Literaturas Portuguesa e Brasileira, com Mestrado em Literatura e Diversidade Cultural (UEFS) e Doutorado em Teorias e Críticas da Literatura e da Cultura (UFBA),  Alana Freitas está atenta também para todos aqueles que, de alguma forma, buscam a preservação da memória da cidade, “como o jornalista Zé Coió, que eterniza figuras populares nas páginas do jornal Noite e Dia”. Ela fala ainda da importância do Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA), que está revivendo a cultura do teatro e formação de plateia, por meio do trabalho do professor Geovane.

E para quem diz que Feira não tem turismo, a professora apaixonada pelo burburinho das ruas cita logo dois tipos: gastronômico e de compras. “Não existe nada igual ao coco espumante do Predileto, saboreado em pé, vendo o movimento das pessoas em volta”, recomenda Alana, que indica com igual fervor o Sorvete da Delícia e o churrasco de carne de porco do Cortiço. “E a sensação de experimentar uma roupa na própria rua?”, diz, citando ainda o Feiraguai, que considera passagem obrigatória de todo visitante. E por fim, vale uma passadinha no forró do Centro de Abastecimento.

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