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Homenagens a religiões de matrizes africanas ajudam a combater a intolerância, diz nova cidadã feirense
1 de outubro de 2024

“Comemoramos este olhar em nossa direção”, disse a sacerdotisa Marla de Oliveira Santos, ao receber da Câmara Municipal, na noite de ontem (30), o título de Cidadã Feirense. Ela justificou aceitar “títulos e reconhecimentos”, homenagens como a que acaba de receber do Poder Legislativo, por ser um caminho para o reconhecimento do trabalho realizado pelas religiões de matrizes africanas e também funcionar como uma esperança de conscientização das pessoas que agem com intolerância aos que professam esta fé. Em um discurso muito bem articulado, que arrancou aplausos entusiasmados da plateia, Marla é denominada Iyánifá Fátóún, aquela que estuda e aprende a prática de Ifá – orixá da adivinhação e do destino, consultado no candomblé para saber se há obrigações a cumprir, porta-voz de Orumilá (‘Salvador’, um dos títulos do Deus supremo).

Nascida no município baiano de Valente, “Capital do Sisal”, a nova conterrânea dos feirenses disse que os sertanejos, “aprisionados pelo cárcere da pobreza, também são nossos ancestrais”. Consagrada primeira sacerdotisa Ifá – que ela chama de “Consciência de Deus” –  no Estado da Bahia, lembrou que enfrentou “um corpo de lideranças masculinas”. Encontrou dificuldades pelo caminho, “em uma sociedade preconceituosa, misógina e racista”. Mesmo com um certo medo e sem “apoio humano”, observou que seu guia indicava o caminho a trilhar:

“Ainda menina, sem saber dos planos do destino, cheguei a Salvador. Toda minha história de vida foi pregando. Sempre foi confortável para mim estar em estradas africanas. Nada me fez retroceder, pois sabia que todos os orixás estavam comigo. Com o apoio da minha espiritualidade e daqueles que jamais largaram a minha mão, chegamos. Sem amor não é possível projetar o futuro”.

Ciente de que “no passado fomos ceifados de nossa cultura”, ela entende que “legitimamos a morte através do esquecimento”.  Iyánifá Fátóun, líder da Egbé Fátóún, Casa de Oyá (espaço religioso voltado para o auxílio espiritual), defende que todos os templos de axé devem ser “locais de militância contra qualquer forma de discriminação”. Uma breve apresentação de sax recepcionou Marla, ao ser conduzida para o plenário. A abertura da sessão solene teve a exibição de um vídeo com resumo da trajetória da sacerdotisa.

Convidados para a Mesa, seus dois filhos,  André Luiz Santos de Andrade Silva e Rui Cesar de Andrade Silva, além do irmão dela, Anselmo Oliveira Santos, fizeram breves pronunciamentos.  André disse que ela tem “grande fé” e recebe, “com muita honra”, a homenagem da Câmara, por “tantas vidas transformadas através de sua orientação e pela força de sua fé”. Rui César entende que um dos objetivos do trabalho de Marla é conduzir as pessoas a errar menos.  Com sua forma “única de ser”, recebe homenagens “por seus próprios méritos”.

“É um orgulho e alegria, compartilhar o reconhecimento da Câmara a esta mulher de coragem”, disse Anselmo, para quem o título de Cidadã Feirense é “símbolo de esperança e de futuro, passo importante em direção ao combate à intolerância religiosa”. Lembrou que, desde pequenina, “protegia incondicionalmente a quem lhe honrava”. Testemunha de sua “bravura”, disse que ela ajuda a manter viva a fé e a cultura de matrizes africanas. O irmão de Marla registrou que, atuando como “instrumento escolhido pelo sagrado, esta mulher de força busca resistência na fonte da ancestralidade e, firme, aceitou seu destino”.

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