Lesionado, trabalhador da indústria ainda é culpado por acidente no trabalho
6 de junho de 2022
Em 1970 o Brasil conquistou dois títulos, o de campeão mundial de futebol e o de maior índice de acidente de trabalho. Hoje, além dos números ainda alarmantes, o trabalhador da indústria convive com a precarização do espaço laboral, a subnotificação de casos, o surgimento de doenças psicológicas e a demissão de lesionados. Situações como essas, comuns em Feira de Santana, foram discutidas na manhã desta segunda-feira (6), em sessão especial da Câmara Municipal.
Também nos anos 1970 Feira de Santana viveu o boom do crescimento, com o incremento da indústria, acelerado pela sua condição de entroncamento rodoviário, conforme lembrou o vereador Silvio Dias (PT), ao dar as boas-vindas aos participantes da sessão. “Ainda falta muito para dizermos que Feira é uma cidade desenvolvida, por isso é tão importante discutir esse tema”, disse o vereador, destacando a quantidade de acidentes que ocorrem no ambiente do trabalho.
“Precisamos fortalecer os sindicatos, sim”, sugeriu Silvio Dias, que é vice-presidente do Legislativo, ao disponibilizar a Câmara como espaço para a sociedade debater os mais variados assuntos, prática comum na atual gestão. Ele propôs uma reunião de avaliação do encontro, que reuniu sindicalistas e representantes de instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ministério Público do Trabalho (MPT), Centro das Indústrias e Universidade Federal da Bahia (UFBA), dentre outras.
As discussões foram permeadas por denúncias. Uma delas, feita por Thiago Azevêdo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Feira de Santana, sobre a concentração de 40% dos registros de acidente do trabalho em uma única empresa, a Belgo Bekaert. “Precisamos que os trabalhadores sejam respeitados”, defendeu, citando ainda que além de ser responsabilizado o trabalhador muitas vezes é demitido, mesmo lesionado. Por conta disso, Marcelo Carvalho Lavigne, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT-Ba) lembrou que no ranque de 20 países acidentes de trabalho o Brasil é o 19º.
“São lutas antigas, sempre passamos por dificuldades devido à retirada dos direitos dos trabalhadores”, destacou Fábio Dias de Souza, presidente da Federação dos Metalúrgicos do Nordeste, lembrando que muitos lesionados não conseguem se reabilitar. “É uma temática que está intimamente relacionada à vida, falar de acidente do trabalho é refletir sobre a exploração do trabalhador pelo capitalismo”, completou Adroaldo Oliveira, representante da Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador (CIST).
Adroaldo sugeriu a criação de uma rede específica de atendimento à saúde do trabalhador, bem como o fortalecimento do SUS. Para Diogo Rios, secretário geral da Subseção da OAB Feira de Santana, a demanda não envolve apenas a parte física, mas também psicológica do trabalhador. Ele alertou para as subnotificações e os casos de acidentes com óbitos, além das doenças ocupacionais geradas pela pressão no ambiente de trabalho ao longo do tempo.
Questão atinge a todos
A iniciativa da Câmara Municipal ao propor a discussão de um assunto que atinge a todos, trabalhador, empresa e sociedade, foi ressaltada por Augusto Fábio Soares, presidente do Centro das Indústrias de Feira de Santana. Ele apresentou números significativos sobre PIB, renda per capta e geração de empregos, ele disse que “recurso tem, falta gestão” para resolver o problema de fiscalização. “A culpa não é só da indústria, há empresas que trabalham corretamente e são penalizadas por outras que não cumprem suas obrigações”, atestou.
Apaixonada pelo tema, Maria Del Carmem Rodriguez, auditora fiscal do Trabalho, falou sobre o perfil de trabalhador do feirense, lembrou a criação das Normas Reguladoras (NRs) e garantiu que a situação hoje é bem melhor que no passado. “O que eu vejo agora é que as doenças psicológicas serão o mal do futuro”, alertou. Na mesma linha, o vereador Petrônio Lima (Republicanos), acrescentou que o uso incorreto dos EPIs é o maior causador de acidentes. “Um erro que pode custar a vida”, advertiu.
Várias pessoas que ocuparam o plenário e a galeria da Casa da Cidadania se manifestaram durante a sessão especial, dentre elas o professor Aurelino Bento, assessor do deputado federal Zé Neto, que justificou a ausência do parlamentar devido a cumprimento de agenda em outra cidade, e Guilhermino Vacarezza, assessor do deputado estadual Robinson Almeida, que durante 16 anos trabalhou no Centro Industrial do Subaé (CIS) e acompanhou de perto a situação dos trabalhadores da indústria.