Antes de ser sindicalista ela era agente comunitária de saúde. Nas pequenas localidades da zona rural de Feira de Santana, Conceição Borges, batizada Maria Conceição Borges Ferreira, deu início a um dos mais importantes movimentos de organização de mulheres neste município e até mesmo no estado da Bahia. Nascida na Fazenda Olho D’Água da Formiga, povoado da Formiga, distrito de Tiquaruçu, sua história é vinculada ao campo, onde ainda reside, sempre atuando na agricultura familiar, aquela que sustenta as pessoas de menor poder aquisitivo.
Todas as etapas de sua experiência envolvem o trabalho coletivo, desde as reuniões de grupos, às vezes com apenas algumas pessoas, à sua passagem, em vários mandatos, pela presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, cargo que exige contato com muita gente. Também uma destacada militante da Central Única dos Trabalhadores, atualmente Conceição Borges preside o importante Movimento de Organização Comunitário (MOC), entidade tradicional e de grandes serviços prestados à luta do povo da roça.
Em meio a tantos acontecimentos que marcaram a sua trajetória de liderança no meio da agricultura e também na área sindical, Conceição lembra da construção da Capela de Nossa Senhora das Graças, no povoado Olho D’Água da Formiga. Foi a partir daí que a professora Lúcia, uma das suas maiores “fontes de inspiração”, deu início às reuniões que gerou o Clube de Mães, a primeira semente do sindicalismo rural entre a população feminina neste município. O trabalho era abrangente.
As participantes aprendiam, desde conhecer e lidar com plantas medicinais, a aplicar injeção. O resultado das andanças com Lúcia foi a fundação de uma associação, versão ampliada do Clube de Mães. O que o sindicalismo lhe deu? “Tudo!”. A resposta vem rápida e objetiva, sem maior elaboração. “Todo esse caminho foi uma grande escola, define Conceição Borges, ao lembrar a primeira disputa, em que houve grande rejeição dos homens.
“Foi um grande desafio”, recorda a mãe de cinco filhos, três mulheres e dois homens, que realizaram o seu sonho de estudar. “Eu não tive tempo de fazer uma graduação”, diz, sem nenhum lamento por ter cursado apenas o primário (hoje ensino fundamental). A recompensa veio das escolhas dos “meninos”, que têm formação em Educação do Campo, Direito, Técnico Agrícola e Agropecuária.
“Descobrimos o MOC e começamos a acompanhar, mas foi a Associação Comunitária de Lagoa da Pedra que levou o movimento de mulheres para dentro do Sindicato, que só tinha homens”, conta a sindicalista, lembrando que Maria das Virgens (Ninha) foi a primeira presidente da entidade. Nos anos 1991/1992 uma vitória inesquecível: a criação do Departamento de Mulheres, dirigido pela própria Conceição, que iniciava então uma brilhante trajetória no sindicato.
Ela lembra que o movimento tema da primeira matéria da jornalista Madalena Braga na TV Subaé. Aliás, o apoio da imprensa é destacado por ela como fundamental para sua trajetória no sindicalismo, que desde 1994 lhe rendeu seis mandatos de presidente e cargos em várias funções. Ela pede licença aos demais profissionais de comunicação e destaca o veterano Zadir Marques Porto, então na sucursal do Jornal A Tarde, e as emissoras de rádio da cidade.
“Sempre tive com jornalistas e radialistas uma relação de respeito, como também com os sindicalistas homens do meio rural”, afirma. Mulher movida pela fé, garante que tudo que realizou na vida, do trabalho à criação dos filhos, “foi com o direcionamento de Deus”. Foi essa fé e a ajuda de pessoas especiais, como Lúcia e Ninha, que a retiraram do lugar de dor quando enfrentou uma úlcera de córnea, aos 30 anos de idade, causa de uma deficiência visual.
Nada que reduzisse a ousadia de alguém que não mede a gratidão por tudo que alcançou. “Sou realizada e feliz”, diz a presidente do MOC, garantindo que não tem nenhuma frustração. O segredo para um bom desempenho profissional, ensina, é saber ouvir, trabalhar em grupo e aparecer pelas ações. É exatamente o que pretende fazer nesse novo ciclo. Alvo de muitas homenagens, inclusive Troféu Imprensa, Comenda Maria Quitéria, e Dia das Mulheres, Conceição Borges, sem falsa modéstia, afirma, com orgulho, depois de uma longa, árdua e vitoriosa trajetória: “Eu tenho certeza que inspiro pessoas”.
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