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MÊS DA MULHER Professora Zelita: “Para quem acredita nos sonhos, inacessível é o céu”
13 de março de 2024

 

A professora Maria José de Macedo Santana ainda guarda na memória o dia em que saiu da casa onde nasceu, em um pequeno sítio no município de Ribeira do Amparo, no Nordeste da Bahia, para frequentar a escola, em Caldas de Cipó, com apenas oito anos de idade. Foi lá também que cursou o ginasial e tomou gosto pelos estudos, mas não pôde continuar. Naquela época, as alternativas eram Alagoinhas, Feira de Santana ou Salvador. Todas inviáveis. Pelo menos naquele momento.

Esse foi apenas um dentre muitos empecilhos que a penúltima dos 13 filhos dos agricultores Luiz Gonzaga de Macedo e Maria Dantas de Macedo enfrentou ao longo da vida. Ela voltou para casa com uma pontinha de frustração, reforçada pelos lamentos da professora Maria Odete Santana, que não somente acreditava, como alimentava os sonhos da aluna. Determinada, Zelita – como ainda hoje é chamada pelos familiares – aprendeu desde cedo a perseverar.

Avalia que valeu a pena a forma como conduziu a própria vida. Sim, porque coube a ela todas as decisões que demarcaram seu destino: do casamento com o motorista Daniel Aureliano de Santana, aos 19 anos, contra a vontade dos pais, à retomada dos estudos, tempos depois. “Casar, naquela época, era a alternativa para a grande maioria das mulheres, mas eu casei por amor”, diz Maria José, convincente. O casamento rendeu cinco filhos, quatro mulheres e um homem, e só acabou com a morte do companheiro da vida inteira, em 2018.
Arrependimento? Nenhum. Mas, volta e meia, a vontade de estudar despontava. Veio o primeiro filho e o sonho parecia, então, mais distante. “Eu estudava em casa, comprava dicionários, revistas, livros de bolso, romances”. Mas o que ela queria mesmo era aprofundar os conhecimentos em Francês, que estudou no Ginásio e nunca mais esqueceu.

“Até hoje eu tenho as anotações guardadas”, lembra. Mantém sob cuidados, tambem, os presentes dos amigos, conhecedores de seu gosto “pelas coisas da França”, dentre os quais o volume completo da publicação “C’est Facile”, que traz os primeiros passos para a aprendizagem da Língua Francesa.
Foi em Feira de Santana – ela veio para a cidade em 1972 – que aconteceu o passo definitivo rumo ao sonho. A primeira tentativa foi um curso de Francês, mas era caro. “Quando eu disse que o preço não era acessível, o professor Jean Marie disse: ‘inacessível é o céu’”, recorda Maria José, que passou a fazer da frase uma filosofia de vida. Até o marido mudou de opinião. Os colegas sugeriram que ela fosse para a Universidade, mas era preciso concluir o segundo grau. O caminho foi o CPA (antigo Supletivo), com a ajuda dos filhos Itaniel, Flávia, Lívia, Valéria e Débora.

Aos 49 anos, em 1997, ela cruzou os portões da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) para frequentar o curso de Letras com Francês. Um sobrinho lhe disse, quando ela comemorava o resultado do vestibular, que passar era fácil, difícil era cursar”. Em resposta, Maria José apresentou seu histórico escolar exemplar: finalizou o curso em tempo mínimo e nenhuma prova final. No início eu temia que houvesse alguma rejeição, na classe, pela idade. Mas ela deu conta e nem teve tempo de pensar mais nisso. Até porque, dentro do Espírito de não desistir nunca, acabou se tornando uma inspiração para a turma.

No dia da formatura, foi escolhida para fazer o juramento, em francês, claro, e emocionou a todos. Fez concurso para a rede estadual de ensino e como não conseguiu vaga para ensinar Língua Francesa, foi nomeada professora de Língua Portuguesa, função em que aposentou-se, anos depois. Fez a tão sonhada viagem à França e define Paris como “um grande museu a céu aberto”. Maria José é Especialista em Gramática da Língua Portuguesa, pós-graduação feita também na UEFS, e ainda tem vigor para eventuais projetos. Por que não? Afinal, conclui com seu peculiar otiimismo, “como diria Jean Marie, inacessível é o céu”.

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